Enquanto a etiqueta japonesa começa por reconhecer a existência e a dignidade do outro
Enquanto a etiqueta japonesa começa por reconhecer a existência e a dignidade da outra pessoa, a etiqueta das sociedades confucionistas começa com a negação da existência do outro.
1 de abril de 2017
Gostaria de abordar brevemente alguns temas:
– Porque é que tantas pessoas originárias da Península Coreana que vivem no Japão, apesar do seu ódio declarado ao país, não regressam a casa;
– Porque é que, apesar de afirmarem que foram “trazidas à força para aqui”, nunca exigem o repatriamento;
– E porque é que, mesmo que queiram naturalizar-se, muitos deles não conseguem.
Mais adiante neste post, deve ouvir com atenção o professor universitário coreano apresentado no vídeo abaixo.
No dia 4 de abril, Hwang Jang-yop (86 anos), antigo secretário do Partido dos Trabalhadores da Coreia, visitou o Japão.
O seu itinerário não foi divulgado publicamente – porque a luta pelo poder entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul existe exatamente como no Japão, e há muitos que não hesitariam em matá-lo.
Por acaso, o Sr. Hwang fala japonês fluentemente.
Dada a sua idade, é provável que tenha vivido em japonês até aos 20 anos.
É natural que assim seja. A Coreia foi oficialmente anexada pelo Japão em 1910 (Meiji 43), e o Sr. Hwang, tendo nascido nessa altura, teria crescido como cidadão japonês, recebido uma educação japonesa e vivido com um nome japonês.
Quando ouvimos a palavra “colónia”, pensamos frequentemente nas potências imperialistas ocidentais na Ásia e em África, que trouxeram consigo a exploração, a discriminação e a pilhagem.
Mas a abordagem do Japão foi a de uma anexação legal.
Através desta política de anexação, o Japão atribuiu uma parte significativa do seu orçamento nacional para melhorar a vida dos residentes coreanos – construindo sistemas educativos, caminhos-de-ferro, estradas, portos e outras infra-estruturas essenciais.
Ver: “A Coreia antes e depois da anexação – Arquivo fotográfico”
Pode dizer-se que o Japão deu mais do que recebeu.
Em particular, a vida na Península Coreana antes da anexação era marcada pela pobreza extrema.
Além disso, na década de 1920, a União Soviética – criada em 1922 – já tinha começado a avançar para sul, colocando a região à beira da colonização comunista.
Neste contexto, a Coreia enfrentou uma escolha crítica: ser comunizada pela União Soviética ou assimilar-se ao Japão. Esta era a encruzilhada histórica.
Na altura, a vida na península coreana era também definida por um sistema de classes notoriamente rígido.
A hierarquia social era severa e podia ser classificada em grupos como os yangban (aristocratas), os jungin (classe média), os sangin (plebeus), os baekjeong (intocáveis) e os escravos.
Diz-se que ainda hoje subsistem vestígios deste sistema de classes.
Se analisarmos o conceito coreano de bon-gwan – que estabelece a legitimidade e a superioridade da linhagem de uma família – podemos ver os efeitos persistentes.
Eis algo particularmente notável:
Enquanto a etiqueta japonesa começa com o reconhecimento da presença do outro, a etiqueta das sociedades confucionistas começa com a negação da presença do outro.
Diz-se que isto é um produto da história da península de repetidas invasões e subjugações, bem como do seu longo legado de escravatura.
Também se diz que explica o facto de as pessoas nestas sociedades não oferecerem sorrisos amigáveis a estranhos no primeiro encontro.
Mantêm-se cautelosos até conseguirem determinar o estatuto social, o passado ou a idade do outro.
Não se pode deixar de acenar com a cabeça em sinal de compreensão ao ouvir isto.
(Continua.)